sábado, 18 de julho de 2009

Aconteceu um dia... II

Por vezes pergunto-me...ainda pensas em mim? Aliás...ainda te lembras de mim?
Será que quando te vais deitar, te perguntas o que estou a fazer? Ou de como estou?
Ou até mesmo durante o dia...será que eu invado os teus pensamentos?
Quero julgar que sim...quero pensar que eu não fui apagado das tuas memórias. Quero pensar que, nem que seja uma vez por dia, te lembres de mim. Que penses em mim.
E saudades minhas...tens? Eu tenho tuas...e tu nem imaginas. Continuas a ser o meu primeiro e último pensamento de cada dia.
Queres saber porque tenho a esperança de que pensas em mim? Vamos recuar umas semanas, até à última vez que te vi...
Era uma 6a feira, e eu estava em casa a estudar...eram umas 20.30, quando me ligas. Nem disseste olá, e pelo teu tom de voz alguma coisa se passava...

"Onde é que estás?"

Não estavas bem, e pediste-me para te levar ao hospital. Aí está uma coisa que nunca te conseguiria dizer que não. Vesti-me, fui-te buscar e fomos ao hospital.
O que tinhas é irrelevante para a história, mas o que importa mesmo é as atitudes...
Já na sala de espera, sentei-me ao teu lado. Perguntei se precisavas de alguma coisa, e sem dizeres nada, encostas a cabeça no meu ombro. Mas não foi só o encostar...foi a maneira carinhosa como o fizeste, o encaixar a tua entre o meu ombro e a minha cabeça, foi o aninhares-te em mim, como fizeste milhares de vezes. E eu, enrolei o meu braço à tua volta e coloquei a mão na tua cabeça. Como um gesto tão insignificante, significou tanto para mim. Naquele momento, vi o carinho que ainda sentes por mim. Vi a tua confiança que ainda tens para eu te proteger. E assim ficámos, durante uns minutos.
Nessa altura, já te sabia com alguém, porque me contaste. Andavas com ele há umas semanas.
Começaste a justificar o facto de me teres ligado a mim para te trazer ao hospital. O teu irmão não estava em casa...a tua avó não podia ir, e ele...ele estava num festival a divertir-se. Já tinhas falado com ele, que ias para o hospital e que era eu que te levava. Ora, eu não sei se é só de mim mas ainda hoje penso: "Como é possível, alguém estar com outra pessoa, saber que ela vai para o hospital cheia de dores sem saber o que tem, saber que vai com o ex namorado com o qual passou alguns anos, e ainda ficar tranquilo num festival a ver concertos?"
Se fosse eu, tinha saído a correr...tinha voado, estivesse onde estivesse. Nem que tivesse que atravessar um mar de 500 mil pessoas, eu não ficava parado. Eu ia ter contigo, eu ia cuidar de ti. Mas ele não...ele ficou a divertir-se...e eu é que estava ali contigo, a cuidar de ti, a tomar conta de ti, a ter a certeza de que recebias tratamento. E isso irritou-me tanto, como é que alguém te poderia "ignorar" dessa maneira.
Adiante...
A certa altura, desencostas-te de mim...e ficas a olhar para mim...ficámos, sem exagero, 30seg a olhar um para o outro. Sem falar. Sem tirar os olhos dos teus. Sorriste, aproximaste-te de mim, e encostaste a tua cabeça na minha...frente a frente. Testa com testa. De seguida, dás-me um beijo na cara...mas foi um beijo com ternura. Com carinho. E eu retribuí. E voltaste a encaixar-te no meu peito...e na posição que estavas, a tua boca estava a menos de 10cm da minha...bastava virar-me, e beijava-te. Naquele momento, esse pensamento correu-me pela cabeça várias vezes. Hesitei...podias não gostar. Mas tinha a certeza de que não dizias que não. Tinha a certeza que se encostasse os lábios nos teus, não ias fugir...mas não o fiz. E hoje arrependo-me de não o ter feito.
Mais tarde, ele liga-te. Levantas-te e vais falar para onde não te consigo ouvir. Uns minutos depois, chegas e começas a resumir a conversa com ele, sem eu te perguntar nada. Até que me dizes:

"Ele diz que estás a ser espectacular, por estares aqui comigo. Estás a ser uma excelente pessoa, obrigado por me teres trazido"

Eu digo que não...sou uma pessoa normal, não tenho nada de espectacular, nem de excelente. Penso para mim que só o faço, pelo que sinto por ti. Será que não percebes isso? E voltas a responder:

"És...és uma excelente pessoa, e ao contrário do que pensas, eu lembro-me sempre disso. Eu nunca me esqueço da pessoa que és"

E no entanto, mesmo sendo uma excelente pessoa, não estás comigo. Desculpa, mas não faz sentido. Era o que me apetecia ter dito, mas não ali, no hospital, rodeados de pessoas.
Passadas algumas horas, lá nos despachámos do hospital. Meia dúzia de medicamentos receitados, e iamos a caminho de casa.
Quando estávamos a chegar, ia deixar-te à porta de casa. Até que apontas para um lugar vazio, para estacionar. Olho para ti, e pergunto se é suposto eu subir até tua casa.

"Sim, sobe...se quiseres, claro"

Não disse que não. Estacionei e subimos.
A tua avó veio logo ter contigo, para saber como estavas. E quando me viu, abraçou-me. Disse uma dúzia de vezes que gosta muito de mim, e agradeceu-me outra dúzia por ter tratado de ti.
Já era tarde, e mesmo vestida, deitas-te na cama. Só queres descansar do longo dia, e dormir. Eu tapo-te, coloco os cobertores de forma a não teres frio. E sento-me a ver TV.
Era minha intenção ficar ali até adormeceres. Mas as constantes mensagens que ias recebendo quando estavas mais para lá do que para cá, impediam-te de dormir. E eu já estava a ficar com sono. E não ia ficar ali a dormir. Embora na minha cabeça corresse o desejo de que me pedisses para me deitar ao teu lado, sei que não o ias fazer. Quase 2h depois, já extremamente cansado, resolvi ir embora. Ainda estavas acordada, sonolenta. Chego-me perto de ti, e digo-te baixinho que vou embora. Abanas a cabeça. Aproximo-me de ti, devagarinho, para te dar um beijo na cara. Mas a forma como estavas deitada, impedia que conseguisse dar-te um como deve ser. Por isso, ao aproximar-me, toquei-te ao de leve na boca. Fiquei assustado por ter medo que pensasses que te beijei de propósito. Mas a tua reacção, deixou-me ainda mais espantado: quando sentiste tocar-te nos lábios, beijaste-me de volta...como se de um beijo verdadeiro se tratasse. Tudo isto num segundo. Nem foi considerado um beijo, nem nada. Foi só um toque. E mesmo com esse toque, lá te dei um beijo na cara e disse-te baixinho, que se precisasses de alguma coisa, que me podias ligar.
E assim, fui embora...
Desde então, nunca mais te vi. Falei contigo por tlm só mais uma vez, de coisas triviais. Durante uns dias, senti-me bem, porque conhecendo-te como conheço, senti que ainda sou parte de ti. Senti que ainda existem sentimentos por mim. E fiquei feliz, por saber que não fui esquecido. No entanto, este silêncio que perdura, faz-me começar a pensar o contrário. Desapareceste...nunca mais ligaste...
Em conversa com um amigo nosso, contei-lhe esse dia. A resposta dele foi breve e resumida:

"Foste estúpido. Nunca devias ter ido. Já não és o namorado dela, o outro que a levasse."

Eu fui porque gosto dela. E porque apesar de tudo, ainda está presente em mim.
Mas será que fui...?
Estúpido...?

7 comentários:

K disse...

Não, não foste nada estupido, seguiste o coração, e isso é óptimo.
Se não o tivesses feito hoje estavas a remoer-te por teres ido contra o teu ser, e isso sim, seria muito, muito estupido.
Bjs

Lion disse...

Não me arrependo de ter ido. Mesmo nada. Mas se calhar arrependo-me de não ter feito o que tinha vontade. Nem que fosse para ver a reacção.
Obrigado
*

Sara. disse...

A isto eu chamo esperança, e essa nunca morre.

;)

Lion disse...

Isso garanto-te que nunca morre. Nunca mesmo.
obrigado ;)

Pandora disse...

Admiro o teu gesto...ainda há homens com sentimentos nobres.

Lion disse...

Obrigado...mas só queria que ela percebesse que o faço pelo que sinto, pela importancia que tem para mim...e parece que é a única que não percebe isso...

Sérgio disse...

Aposto que és uma excelente pessoa , e mesmo com o teu amigo a dizer isso aposto que nao te arrependes de nada , eu mesmo que acabasse com a maria e isso acontece-se , eu não pensava 2 vezes Lion. Continua a ser a pessoa que és porque demonstras ser uma pessoa de coração puro.

Abraços